falsa-memória

penso muito sobre a menina
que trocou a cor dos olhos
por dentro do estômago

e nas outras dúvidas
do primeiro amor pelas minhocas
pelas coisas viçosas por subir a
árvore pra pegar o caqui mais
alto do pé
e como um ser selvagem
sentir alívio por não saber descer

já faz tempo que essas lembranças não são minhas
ainda não sei de onde vem
esse revés na espinha e
o ócio das vértebras
mas suspeito

não entendo por que tudo desaparece
não vejo mais as cigarras os lambaris ou a senhora que morava no final da rua
vivo com a angústia da incerteza
de estar perdendo todas as coisas
ou tudo não passar de uma grande miragem