Cláudia Feltrin
1 min readSep 9, 2023

fico desesperada por não conseguir prestar atenção no mundo

a única coisa que me preocupa agora
é em qual hora do dia e a que custo
meu peito vai parar de arder

tenho a impressão de que
desaprendi a chorar há muitos anos
e agora esse nó na coluna
é aquela pilha de lágrima
que guardo como se fosse um segredo

nada mais parece tão certo assim:
às vezes parece que sinto teu cheiro nas esquinas
e vivo com essa dúvida insondável
‘como pode você estar e não estar aqui?’
não suporto a ideia de você ter levado as respostas
e o tempo contigo
esse tempo que agora tento solucionar
como uma camada maciça
de alguma-coisa-que-ainda-não-entendo

em julho te escrevi vinte páginas
como se pudesse te contar de todos os novos mistérios da vida
tento inventar como seria te ver envelhecer
tenho sentido esse vazio das coisas
numa dimensão que me corrompe
e nunca ruminei tanto
a impenetrabilidade da falta