Cláudia Feltrin
1 min readDec 30, 2019

queria parar de escrever sobre você. rezo imploro cismo sinais de fumaça pra algum deus dar prazo pra esse naufrágio porque dói demais não saber quando meus pesadelos vão deixar de ser sobre o que tu é quando não comigo. já perdi a conta de quantas vezes tua imagem turva assombrou meu sono depois da última vez e a sensação é sempre a mesma: sufocante tétrica incendiária e preciso chorar pelas vírgulas pra conseguir voltar a respirar depois de você. te vejo sempre num borrão fantasiado por alguma célula tua que ainda não consegui arrancar daqui mas ao que me parece tão distante é sempre sobre teu semblante. é sempre sobre os ruídos as respostas que não vieram sobre essa insegurança nublada que é mais sobre medo do que dúvida e os pontos que se abriram. é assustador rezar pra conseguir te desconectar de mim porque essas raízes já fizeram casa e eu não sei eu não faço ideia de como expulsar o que me costumava ser cura. tento te apagar mas não sei se quero só que entendo sobre precisar. tem tanta palavra inerte rasgando as paredes que tentam desesperadamente cicatrizar mas é difícil quando se há tanto enfio e contorno as feridas por dentro e a verdade é que me assusta entender que já deixou de ser sobre mim. reconstruo muros e ressalto as grades pra ver se consigo te desentranhar. mas hoje não vai dar.